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Meio Ambiente

‘Sem água e sem oxigênio’: Seca extrema e altas temperaturas nos rios da Amazônia ameaçam vida de botos

Seca extrema e altas temperaturas nos rios da Amazônia ameaçam fauna aquática e já mataram mais de 300 botos
Seca extrema e altas temperaturas nos rios da Amazônia ameaçam fauna aquática e já mataram mais de 300 botos

Pelo segundo ano consecutivo, os principais rios da Amazônia enfrentam níveis de água extremamente baixos, agravados pela seca severa, resultando em impactos ambientais, sociais e econômicos de grande magnitude. Um dos maiores alertas vem de uma nova plataforma de monitoramento, desenvolvida pelo WWF-Brasil e MapBiomas, que revela um aumento alarmante nas temperaturas das águas dos lagos conectados a esses rios, colocando em risco a fauna aquática, especialmente os botos.

O monitoramento da temperatura desses lagos se tornou crucial após o trágico episódio em setembro de 2023, quando uma seca intensa causou a morte de 330 botos nos lagos Tefé e Coari, conectados ao rio Solimões, no Amazonas. Na ocasião, a temperatura da água chegou a 40°C, um cenário catastrófico para a sobrevivência desses animais.

Em setembro de 2023, a seca intensa causou a morte de 330 botos nos lagos Tefé e Coari, conectados ao rio Solimões, no Amazonas.

“Esses lagos têm acumulado de 5 a 9 meses com temperaturas médias superiores às observadas em 2023, o que intensifica o estresse fisiológico nos animais devido à exposição prolongada a temperaturas elevadas e baixos níveis de água”, alerta Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil e uma das coordenadoras da plataforma de monitoramento.

Emergência com botos

De acordo com os dados, todos os 23 lagos monitorados pela nova ferramenta apresentam temperaturas acima da média acumulada dos últimos cinco anos para o mês de agosto. Entre os mais afetados está o Lago do Rei, no rio Amazonas, onde o aumento de temperatura chega a 1,5°C em relação à média do mesmo período. No Lago Tefé, onde ocorreu a morte em massa de 209 botos, a temperatura está 0,8°C acima da média dos últimos cinco anos e 0,2°C acima de 2023.

A plataforma permite monitorar a temperatura e disponibilidade de água dos lagos em tempo real, comparando dados ao longo dos anos e emitindo alertas sempre que um aumento significativo na temperatura for detectado. Esses alertas são essenciais para que as equipes de emergência, sob comando do ICMBio, possam atuar rapidamente e tentar mitigar os efeitos desse superaquecimento nas espécies vulneráveis.

“O superaquecimento das águas dos lagos amazônicos é causado por uma combinação de fatores, como a redução do volume de água, excesso de radiação solar e a turbidez da água, que facilita a difusão de calor”, explica Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água.

Níveis históricos e seca prolongada

Além das altas temperaturas, os rios da Amazônia estão registrando níveis de água historicamente baixos. No final de agosto de 2024, o rio Solimões atingiu a marca de 94 centímetros negativos, a menor já registrada pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) desde o início do monitoramento em 1989. A situação continuou a se agravar e, em 20 de setembro, a cota chegou a 206 centímetros negativos.

Com mais dois meses de estação seca previstos para a Amazônia, especialistas temem que as temperaturas nos lagos e rios da região aumentem ainda mais, trazendo consequências devastadoras para a fauna aquática, em especial os botos, que já sofrem com as condições extremas.

Foto: Adriano Gambarini/WWF Brasil

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